Enquanto o dicionário define "masculinidade" como a qualidade do que é másculo e viril, o termo raramente é utilizado de forma isolada na atualidade e está na origem de questões complexas. Na prática, ele vem acompanhado de adjetivos como "tóxica", "frágil" ou “sólida”.
Para debater os problemas decorrentes do tema e apontar soluções, o livro “O Futuro das Novas Masculinidades: uma descoberta social, política, econômica e cultural” chega às livrarias com a assinatura de 29 autores, sob o prefácio da empresária Luiza Helena Trajano. A coordenação é de Niltinho Ricardo e Mauricio Maruo.
Mauricio Maruo é fundador do "Paternidade Criativa", uma plataforma que utiliza a chegada dos filhos como um catalisador para abordar a transformação masculina, focando a paternidade ativa e a comunicação não-violenta. Já Niltinho Ricardo é a voz por trás do "Papo de Pai Podcast", um espaço de diálogo sobre os desafios e as alegrias da paternidade contemporânea.
Editado pela BOC, a obra dá luz aos malefícios causados por esses padrões de comportamento e seus reflexos para a sociedade. Para isso, os autores apresentam alternativas e reflexões aplicadas a diferentes contextos, como a educação na infância, o ambiente corporativo e os desafios enfrentados pela comunidade LGBTQIAP+.
Entre os autores, há desde pedagogos e ativistas LGBTQIAP+ até executivos, especialistas em saúde mental e jornalistas, garantindo uma visão multifacetada do tema. Alguns nomes são o do psicólogo e orientador parental Cid Paz Vieira Filho, o do jornalista Matheus Meirelles, da psicanalista Fabiana Oliveira e do palestrante Fabio Amparo.
No prefácio, a empresária Luiza Trajano destaca a importância da união nesse processo.
“O mundo só será verdadeiramente transformado quando homens e mulheres,lado a lado, sejam capazes de reconhecer suas diferenças, valorizar suas potências e, juntos, promoverem o respeito, a equidade e o amor. Que este livro seja uma ponte para isso”, conclui Luiza.
Um reflexo da masculinidade tóxica: a violência contra a mulher
O lançamento do livro torna-se ainda mais pertinente diante do agravamento da violência de gênero no Brasil. Enquanto os índices gerais de homicídios apresentam queda, os crimes contra mulheres, crianças e adolescentes continuam crescendo.
Dados recentes do Atlas da Violência 2025, feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) , mostram que a violência letal contra a mulher vai na contramão da queda geral dos homicídios, com estados como Roraima registrando taxas de 10,4 mortes por 100 mil mulheres. Além disso, as mulheres negras seguem sendo as principais vítimas, representando 68,2% dos feminicídios em 2023.
O cenário atual da violência contra a mulher no Brasil foi o estopim para que a pedagoga e atriz Terezinha Silvestre Salamanca, também coautora do livro “Lugar de Mulher é No Topo do Mundo”. Voluntária há 10 anos no Grupo Mulheres do Brasil, ela viu no livro uma ferramenta de transformação.
“Sobre esse tema (a masculinidade), uma parte aborda o combate à violência contra a mulher, tema abordado em uma das palestras do Maurício que assisti. Um tempo depois, ele me convidou para participar desse livro. (...) Eu achei sensacional, uma atitude muito importante”, ressalta a escritora.
Qual é a masculinidade que queremos?
Em seu capítulo, o segundo da obra, intitulado “A Masculinidade que Queremos: Princípios e Práticas para um Novo Tempo”, Terezinha Salamanca aborda, sobretudo, a importância da educação de base para as crianças e a força do exemplo na hora de ensinar sobre respeito, empatia e igualdade, muito com base na sua experiência como pedagoga.
“(...) Vemos que hoje os adultos precisam desconstruir esse padrão tóxico. Se aplicarmos uma educação baseada no respeito desde cedo, esses efeitos nocivos da masculinidade não existirão no futuro”, defende.
Em seguida, ela ressalta as principais práticas destacadas nas páginas que escreveu: “O texto aponta caminhos como evitar reforçar estereótipos de gênero, estimular respeito e empatia, incentivar igualdade nas tarefas domésticas, valorizar a expressão de sentimentos e praticar gentileza e reciprocidade nos relacionamentos”.
Para Terezinha, a proposta central do livro é "multiplicar o conhecimento sobre o que é a masculinidade e seus efeitos na sociedade com ações transformadoras"; visão que ela resume no trecho final da sua contribuição para “O Futuro das Novas Masculinidades”.
“Esses ganhos reforçam que a desconstrução de padrões tóxicos da masculinidade é benéfica não apenas para homens ou mulheres, mas para toda a sociedade. A masculinidade que queremos deve estar alinhada com os valores de respeito, empatia, colaboração e responsabilidade, construindo um futuro de maior bem-estar coletivo”.
Serviço
“O Futuro das Novas Masculinidades: uma descoberta social, política, econômica e cultural”
Editora BOC • 304 páginas • R$ 60
Mais detalhes na página ‘Masculinidades’ do site da Editora BOC.
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